O escritor Almeida Faria é o autor português que participa este ano na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), que homenageia na edição de 2014, entre 30 de julho a 3 de agosto, Millôr Fernandes, dois anos após a sua morte, em março de 2012, aos 88 anos.
Mestre do humor, dramaturgo, editor, tradutor, artista gráfico, Millôr Fernandes foi uma das figuras mais marcantes da imprensa brasileira e é a primeira vez que a FLIP homenageia um autor contemporâneo e que já esteve na Tenda dos Autores do certame, como convidado da sua 1ª edição, em 2003.
No último dia da 12ª FLIP, Almeida Faria e o escritor chileno Jorge Edwards, Prémio Cervantes de 1999, debatem, na Tenda dos Autores, o palco essencial da Festa com um auditório de 850 lugares, Os sentidos da paixão, em que a própria paixão, o ciúme, o erotismo e a escrita «pautam a conversa entre esses dois grandes romancistas, mestres da narrativa ibero-americana», segundo os organizadores.
A escolha de Almeida Faria (Montemor-o-Novo – Portugal, 1943), autor de romances, novelas e peças de teatro, que conta na deslocação a Paraty com o apoio do Camões, IP, coube ao curador da FLIP, o jornalista brasileiro Paulo Werneck, que apontou a «arquitetura, a ciência e o pensamento indígena» como «alguns dos eixos importantes da edição deste ano».
Em 2013, o arquiteto Eduardo Souto de Moura, Prémio Pritzker de 2011, foi o convidado português da FLIP, o mais importante festival literário brasileiro e um dos mais importantes do mundo, que em anos anteriores contou com nomes da literatura portuguesa como Dulce Maria Cardoso (2012), Valter Hugo Mãe (2011), António Lobo Antunes (2009), Inês Pedrosa (2008), Mário de Carvalho (2006), Gonçalo M. Tavares (2005), José Luís Peixoto (2005), Pedro Rosa Mendes (2005), José Eduardo Agualusa (2004), Lídia Jorge (2004) e Miguel Sousa Tavares (2004).
A paixão, romance de 1965 de Almeida Faria, foi reeditado este ano no Brasil, pondo termo a uma ausência de duas décadas do escritor português das livrarias brasileiras, indica o sítio da FLIP, que cita a propósito, sobre esta obra, as palavras do escritor brasileiro Raduan Nassar: «entrei em imediata comunhão com essa obra-prima, a ponto de colar a Lavoura Arcaica, sem qualquer pudor, certas imagens e metáforas daquele poema em prosa». Também António Lobo Antunes é referido como estando entre os leitores de Almeida Faria – «na minha geração, lembro-me de sair A paixão de Almeida Faria e eu com 19 anos a pensar: nunca chegarei aos calcanhares deste homem».
Almeida Faria estudou e ensinou filosofia, designadamente em áreas relacionadas com a estética, na Universidade Nova de Lisboa. Publicou aos 19 anos o seu primeiro e polémico romance, Rumor Branco, a que se seguiu a série de quatro romances (A Paixão, Cortes, Lusitânia, Cavaleiro Andante) conhecida por Tetralogia Lusitana. Além de contos dispersos e obras teatrais, publicou ainda o controverso e altamente polémico romance O Conquistador. Quase todos os seus livros, várias vezes premiados e traduzidos em muitas línguas, foram ilustrados por Mário Botas, sobre o qual escreveu o ensaio Do Poeta-Pintor ao Pintor- Poeta. Em 2012, Almeida Faria lançou O murmúrio do mundo (Tinta da China), relato de viagem à Índia.
O interlocutor de Almeida Faria, Jorge Edwards (Santiago, 1931), autor de ficção, ensaios e memorialística, «fugiu ao destino convencional de filho da aristocracia ao enveredar pela literatura e pela esquerda», segundo o sítio da FLIP. Nomeado embaixador do governo de Unidade Popular de Salvador Allende (1970-73) em Havana, foi expulso três meses depois por criticar o regime cubano (Persona non grata, seu livro mais conhecido, narra o episódio). Teve entre os seus amigos Octavio Paz, Pablo Neruda, Mario Vargas Llosa, Gabriel García Márquez e Julio Cortázar.
A FLIP caracteriza-se pela qualidade dos autores convidados, o entusiasmo do público e a hospitalidade da cidade. Nos seus cinco dias, realiza cerca de 200 eventos, que incluem debates, espetáculos, exposições, oficinas, exibições de filmes e apresentações de escolas. Composta por uma conferência de abertura e cerca de 20 mesas que reúnem para uma conversa informal convidados dos mais variados horizontes (escritores, cineastas, autores de banda desenhada, historiadores, jornalistas e artistas plásticos, entre outros), a programação principal da FLIP conta com tradução simultânea e é transmitida pela internet.