Mais de duas centenas de alunos, oriundos de 43 países de quatro continentes, frequentaram o Curso de Verão de Língua e Cultura Portuguesas (CVLCP) a distância, realizado no passado mês de julho de 2020, e que resultou de um consórcio estabelecido entre o Camões, I.P., e cinco instituições de ensino superior portuguesas.
Perante o contexto de pandemia, e em resposta aos constrangimentos da organização dos habituais Cursos de Verão presenciais, o Camões, I.P., e as Universidades de Aveiro, de Coimbra, do Minho, do Porto e Nova de Lisboa uniram esforços e organizaram, em conjunto, uma formação em formato digital, dirigida a um público não falante de português como língua materna, oferecendo os principais níveis de proficiência linguística (A1 a C1) e mantendo a filosofia dos Cursos de Verão.
Um dos aspetos inovadores deste curso foi a sua estrutura. Cada universidade ficou responsável pela realização de um dos níveis oferecidos: Faculdade de Letras da Universidade do Porto - A1; Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa - A2 (tendo tido, excecionalmente, também uma turma de B1 e outra de B2); Universidade de Aveiro - B1; Universidade do Minho - B2; e Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - C1. Cada um compreendeu uma vertente de Língua, disponibilizada na sua própria plataforma, enquanto, no portal do Camões, I.P., foi disponibilizado um conjunto de formações modulares de temáticas da Cultura Portuguesa, produzidas pelas universidades.
Outra inovação foi a certificação conjunta. O certificado que os estudantes receberam no final do curso foi emitido pela instituição na qual o aluno fez o nível, mas ostenta o logótipo de todas as instituições do consórcio, sendo, assim, uma certificação conjunta e reconhecida por todas elas.
No total, frequentaram o curso 207 alunos, repartidos pela Universidade de Aveiro (42), Universidade de Coimbra (17), Universidade do Minho (46), Universidade do Porto (38) e Universidade Nova de Lisboa (64), provenientes de 43 países dos continentes europeu, americano, asiático e africano.
De acordo com os resultados do questionário de avaliação preenchido pelos alunos, o nível de satisfação com o curso revelou-se bastante elevado.
O encarte do Camões, I.P., foi conhecer alguns dos alunos do CVLCP, para saber por que razão se inscreveram no curso e como foi a sua experiência.
Ksenija Lavrnić, de nacionalidade sérvia, apaixonou-se pelo português no momento em que teve o primeiro contacto com a língua, há 15 anos. “Adorei o som, rapidamente compreendi as palavras básicas e a estrutura linguística, graças ao conhecimento que adquiri ao estudar Língua e Literatura Inglesas na universidade”, conta a professora de Língua e Literatura Inglesas, de 39 anos. Viveu um tempo em Portugal, fez um curso de Português como Língua Estrangeira e, mesmo depois de regressar à Sérvia, continuou a ler em português, a ouvir música portuguesa e a falar com os amigos portugueses. “Tornou-se uma parte de mim”, diz.
Foi, por isso, com grande entusiasmo que se candidatou à bolsa do Camões, I.P., para frequentar o CVLCP, a qual lhe foi atribuída. “Foi um sonho tornado realidade”, afirma, destacando o facto de o curso ter decorrido online e durante as férias de verão e também ter sido organizado e certificado por cinco universidades portuguesas. “Lá estava eu a ter algumas dificuldades em aprender uma nova gramática, mas a desfrutar cada segundo, e a ouvir e a falar português todos os dias outra vez”, descreve. “Foi como voltar para casa”.
A argentina Carolina Barriga, 40 anos, é professora de Português Língua/Cultura Estrangeira em Buenos Aires e, por ter estudado na Argentina, tem uma maior proximidade com o português do Brasil. Viu, assim, no CVLCP uma oportunidade para aprofundar o conhecimento da língua portuguesa na variante europeia. “Para mim, mãe de três filhos e ainda com intensa proximidade nos seus desenvolvimentos pessoais, achei que inscrever-me no curso online seria uma oportunidade muito conveniente para me aproximar da língua portuguesa na variante europeia”, conta. Uma experiência “absolutamente positiva”, diz, “tanto no sentido formativo como no âmbito dos relacionamentos”, possível também por ter recebido a bolsa do Camões, I.P. “Fiquei com muitos amigos pelo mundo!”
Paulina Wegrzyn, 39 anos, de nacionalidade polaca, é licenciada em Filologia Hispânica e lusofalante, mas sempre sentiu falta de uma maior aproximação à cultura portuguesa. Guia de turismo de profissão, viu a sua atividade suspensa devido à pandemia e decidiu inscrever-se no CVLCP.
“Gostei muito da ideia de poder fazer um curso de língua e de cultura. Estudei português há muito tempo e esse era um curso com poucos conteúdos culturais”, partilha. “A experiência deste curso foi enriquecedora. Gostei muito da metodologia da nossa professora e da sua disponibilidade para adaptar o conteúdo às nossas necessidades. A possibilidade de estudar com colegas de vários países foi outra vantagem, que tornou o curso ainda mais interessante”, descreve, manifestando ainda a sua vontade de repetir a experiência e fazer o curso de nível superior no futuro.
A frequentar o segundo ano do bacharelato em Artes em Português, na Universidade de Goa, a indiana Sybil Sequeira, de 19 anos, inscreveu-se no CVLCP pelo desejo de saber mais sobre a língua, mas também sobre a história, as tradições e a cultura de Portugal. “A minha experiência foi sensacional. Foi muito bom interagir com os outros alunos, dos quatro cantos do mundo, e compartilhar vibrações positivas para aprender o idioma”, refere. E deixa um apelo: “Espero que mais cursos e programas deste tipo sejam introduzidos todos os anos, não somente para ensinar português como língua, mas também para compartilhar a tradição e a cultura portuguesa por todo o mundo”.
O escocês Max Schmidt, 20 anos, estava a frequentar um curso de Português de nível básico na Universidade de Edimburgo - onde estuda Espanhol e História -, mas, por causa da pandemia, a universidade fechou e o curso ficou por terminar. “Pensei então que este Curso de Verão seria uma ótima oportunidade para melhorar as minhas capacidades de língua portuguesa”, conta. “A experiência do curso foi muito boa. Foi bastante intenso, e no começo do curso foi um pouco difícil acostumar-me com o formato online, porque nunca tinha tido aulas assim, mas depois dos primeiros dias ficou mais normal. Aprendi muitas coisas acerca da língua portuguesa, que era o meu principal objetivo, mas também aprendi muito sobre a história e a cultura do país, o que foi muito interessante”.
Licenciada em Contabilidade e Auditoria, Katyusca Castillo, 22 anos, do Panamá, queria aprender uma nova língua e cultura. Escolheu o português por ser “uma língua românica, falada em muitos países e que poderá abrir mais portas a nível de trabalho”, explica. "A experiência do curso foi excelente. Adorei as aulas virtuais e a metodologia do professor. O que mais gostei foi que, enquanto ia aprendendo a língua, aprendi muito sobre a cultura, a gastronomia e o turismo de Portugal”, diz. “Agora mal posso esperar para conhecer todos os lugares lindos que existem neste lindo país, comer pastéis de nata e ouvir fado”.
“«A minha pátria é a língua portuguesa» é uma frase de Fernando Pessoa que ficou gravada na minha mente”, conta-nos a venezuelana Tahely da Silva, que decidiu inscrever-se no CVLCP para conhecer melhor as suas “raízes”, pois parte da sua família é de origem portuguesa. “Acredito que há que saber de onde viemos para saber para onde vamos, e sei que gostaria de morar em Portugal num futuro próximo”, revela.
Para a estudante de Medicina, de 24 anos, o curso “ultrapassou” as expetativas. “A professora foi excelente e os meus colegas também foram muito agradáveis, adorei conhecê-los a todos. Durante esse mês tive oportunidade de aprender não só a gramática, mas também a cultura. Penso que a história de Portugal é profundamente interessante e a forma como esta tem influenciado a arquitetura, a literatura, os costumes e a própria língua é aliciante”, relata. E acrescenta: “Há uma coisa de que gosto muito no português - como uma só palavra pode expressar uma profundidade de emoções que em muitas outras línguas parece não ser possível. Neste momento estou a pensar na palavra "saudades"... Foi isso que senti quando acabei o curso”.
* Artigo originalmente publicado no Suplemento Camões n.º 285, da edição nº 1303, ano XL, do JL, Jornal de Letras, Artes e Ideias, com a colaboração do Camões, I.P.