As filmagens para o documentário sobre o impacto da presença portuguesa na Etiópia estão em pleno curso. Três semanas intensas de viagens e entrevistas em diferentes cenários historicamente associados ao estabelecimento das missões jesuítas e das famílias luso-descendentes, na zona do grande lago Tana, entre as regiões de Gondar e do Gojam, deram já origem a mais de 60 horas de footage.
A equipa irá a Portugal, continuando a perseguir a história dos laços entre os dois países e procurando compreender, a partir do lugar de partida de homens como Pêro da Covilhã que viria a falecer em terras etíopes, os traços que deixaram na velha Abissínia. O documentário narra a história quase esquecida desses portugueses que formaram uma comunidade identitária miscegenada, e que colaboraram na defesa do reino e na construção de uma série de magníficos edifícios, hoje em ruínas – castelos, igrejas – e pontes ainda em uso.
Nas antigas crónicas, Portugal é Bertukal, de que deriva o nome amárico dessa fruta doce e doirada levada pelas naus portuguesas para paragens que não conheciam senão a laranja amarga. Num poético alargamento semântico, os portugueses ‘perdidos’ da Etiópia são chamados bertukan, dando o nome ao filme que se vai chamar The Oranges of Prester John. O guião é de Yves Stranger, a direção de Dicken Marshall, com produção da Rafiki Films, contando com o apoio, entre outros, de Camões-ICL, da Delegação da União Europeia para a Etiópia, Awash Wines e Ethiopian Airlines.
A docente do Camões na Universidade de Adis Abeba, Isabel Boavida, acompanhou a equipa no Gojam durante três dias, tendo comentado largamente sobre diversos temas históricos e socioculturais, bem como sobre a cooperação técnica e as trocas artísticas do nosso passado comum, em locais como a ponte sobre o rio Abay (Nilo Azul), o mosteiro de Martula Mariyam e o mosteiro de Ura Kidane Mihret.. Os estudantes de língua portuguesa também participaram nas filmagens, tendo sido desafiados a falar sobre o significado de Portugal e do que conhecem sobre as relações entre os dois países. Para todos eles, esta foi uma experiência nova e motivadora. Aguarda-se com entusiasmo e expetativa a primeira exibição do filme!