Mónica Hango, “Os membros da minha família são os verdadeiros beneficiários”
Mónica Hango, agricultora de 48 anos, acorda todos os dias com os olhos postos no futuro. Sabe que, o que o amanhã trará para si, para a sua família e sua comunidade, depende do trabalho de hoje. Mas nem tudo está nas mãos de Mónica.
Mónica vive na comuna do Humbe, no Município de Ombadja, na província do Cunene, no Sul de Angola que tem sido assolado por persistentes secas resultantes de anos em que a chuva escasseia e o trabalho de Mónica se torna mais árduo. As populações do sul de Angola têm vindo a sentir de forma mais acentuada o impacto das alterações climáticas, o que aumenta a sua vulnerabilidade e afeta negativamente a sua segurança alimentar e nutricional. “Ao levantar, a primeira coisa que eu penso é trabalhar para que tenhamos o mínimo de alimento para as crianças, pois quando conseguimos comer todas as refeições durmo com a consciência limpa”, explica Mónica.
Nem tudo está nas mãos de Mónica mas, apesar da imprevisibilidade de fatores que não controla, ela sabe que o seu esforço hoje pode trazer benefícios para as futuras gerações da sua comunidade, e por isso tornou-se numa das facilitadoras das Escolas de Campo Agrícola apoiada pela CODESPA/ ADPP, subvencionada pelo projeto FRESAN. “Toda a minha comunidade depende praticamente do pasto e de culturas tradicionais, o massango (milho painço) e massambala (sorgo)”, descreve a facilitadora.
O Projeto FRESAN, tem apoiado Associações de Agricultores na promoção da segurança alimentar no Sul de Angola. A comunidade de Mónica é uma das 77 comunidades que já beneficiou da criação de Escolas Agrícolas em articulação com o Camões, I.P., com a finalidade de identificar, experimentar e disseminar técnicas e práticas agrícolas que melhor se adaptem às condições climáticas na região, nomeadamente as secas recorrentes, aumentando assim a resiliência das populações. As Escolas de Campo Agrícola são desta forma uma resposta centrada numa intervenção contextualizada, que visa responder às particularidades de cada comunidade, através de ações que mantenham as produções dos sistemas agrícolas em situação de escassez de água, a disseminação de boas práticas, nomeadamente de conservação do solo, para permitir às famílias atingir a segurança alimentar e níveis de nutrição adequados.
“O meu dia-a-dia resume-se a trabalhar de manhã até à noite, acordamos muito cedo para que não falte comida para as crianças, lavamos a roupa, cozinhamos, trabalhamos na lavra, acarretamos água do rio, lenha”, descreve Mónica. Foi ainda através do Projeto implementado pela CODESPA/ ADPP apoiado pelo FRESAN que a Associação de Mónica recebeu um novo sistema de irrigação, que facilitará o trabalho de rega que tantas vezes recai sobre as mulheres da sua comunidade, aliviando o dia a dia de Mónica, que tem a seu cargo 14 filhos. É na sua família, que Mónica encontra motivação para participar ativamente na Associação e aprender mais sobre agricultura. “Participando na Escola de Campo poderei conhecer novas técnicas agrícolas, e não só, pois poderei replicar na minha casa e tirar alguns alimentos e rendimentos para as crianças irem à escola”, por isso Mónica acredita que “os membros da minha família são os verdadeiros beneficiários do projeto”.
O projeto FRESAN, assinala o mês de março, mês da mulher, com um conjunto de iniciativas que visam dar voz a histórias de mulheres como Mónica, que proactivamente lutam pela criação de resiliência e segurança alimentar nas suas comunidades.
O FRESAN é um projeto financiado pela União Europeia gerido e cofinanciado pelo Camões, IP. Pretende contribuir para a redução da fome, pobreza e vulnerabilidade à insegurança alimentar e nutricional no Cunene, Huíla e Namibe, sobretudo através do reforço da resiliência e produção agrícola familiar sustentável, da melhoria da situação nutricional das famílias e apoio ao desenvolvimento de capacidades nas instituições.